O que é prêt-à-pôrter?
Entenda o que significa o termo francês “prêt-à-porter” e qual sua diferença em relação à alta-costura
O mundo da moda tem alguns termos que servem para identificar determinadas práticas que podem ser bem simples, mas que nem todo mundo conhece ou entende completamente os seus conceitos.
Esse é o caso do prêt-à-porter, uma expressão muito usada pelas maiores grifes do mundo, mas cuja atividade também é praticada até mesmo em lojas de departamento mais simples.
O que é prêt-à-porter?
Prêt-à-porter é o termo francês que significa “pronto para vestir” ou ready-to-wear (RTW), em inglês. Esse é o nome dados às peças de roupas fabricadas com base em moldes e tamanhos padronizados e que podem ser usadas assim que são produzidas.
Atualmente, a maioria das roupas encontradas em lojas físicas e digitais seguem essa linha, facilitando a busca e democratizando a compra, já que esse modelo de confecção tende a ser relativamente mais amigável ao bolso.
Embora seja difícil apontar quem foi o responsável por sua criação, sabe-se que o prêt-à-porter ganhou espaço durante a Revolução Industrial, no século XIX. Essa foi a mesma época em que a máquina de costura foi inventada, bem como quando as lojas de departamentos dos Estados Unidos e dos países europeus se tornaram populares de verdade.
Tudo isso permitiu a produção em massa na indústria têxtil e maior acesso à moda para pessoas com budgets um pouco mais singelos.
Isso não significa, no entanto, que a qualidade das roupas é ruim. Em 1812, o ready-to-wear foi o método utilizado para confeccionar uniformes para os soldados norte-americanos.
A Europa levou certo tempo para seguir esses passos, mas o interesse dos investidores pela produção rápida e lucrativa fez com que até mesmo grandes estilistas adotassem a tendência.
Em 1925, a designer francesa-ucraniana Sonia Delaunay, famosa por seu olhar artístico e avant-garde parisiense, começou a introduzir ideias alternativas à alta-costura, muito semelhantes ao RTW dos Estados Unidos, no circuito europeu.
Foi apenas no final da Segunda Guerra Mundial que as grandes casas da Europa admitiram que aquele modelo rendia bons frutos. Para se distanciar um pouco dos norte-americanos, os franceses inventaram o próprio termo: prêt-à-porter.
Nos anos 1950, o termo já fazia parte do universo fashion da França, mas alguns estilistas ainda mostravam certa resistência para explorar algo diferente da alta-costura.
Os veteranos Christian Dior e Cristóbal Balenciaga, cujas carreiras foram solidificadas antes da guerra, faziam parte desse grupo. Já os mais jovens e contemporâneos, como Yves Saint Laurent e Pierre Cardin, usaram o padrão “pronto para vestir” para conquistar uma parte inexplorada da indústria e conquistar novos clientes.
Com o passar do tempo, o prêt-à-porter se tornou inevitável para todos. A demanda foi tão grande que a Câmara Sindical do Prêt-à-Porter dos Costureiros e dos Criadores de Moda foi inaugurada em 1973. Junto à Câmara Sindical da Alta-Costura, esses são os órgãos oficiais que planejam, organizam e definem as normas das grifes francesas e seus desfiles até hoje.
Qual é a diferença de prêt-à-porter e alta-costura?
A alta-costura é o oposto do prêt-à-porter. Essa é a categoria que faz moda sob medida para um público selecionado, tornando a base de clientes altamente exclusiva.
Sua criação é atribuída a Charles Frederick Worth, estilista inglês conhecido como o “Pai da alta-costura”. Na França, ele apresentava coleções já finalizadas aos compradores, realizando customizações de acordo com o gosto de cada pessoa, como tecidos, cores, estampas e silhuetas.
Essa forma de negócio e criação elevou o trabalho de alfaiates, modelistas e costureiros. Os profissionais deixaram a posição de meros prestadores de serviço para ganhar o status de artistas, possibilitando que até mesmo tivessem seus próprios ateliês.
Worth abriu sua primeira casa em 1858, em Paris. Sua clientela contava com alguns nomes de peso, como Eugénia de Montijo, a imperatriz de Napoleão III.
A alta-costura é tão valiosa para as configurações francesas que o próprio termo passou a ser legalmente protegido em 1945, além de integrar o Ministério da Indústria da França.
Para que uma marca ganhe o título de maison, é preciso cumprir algumas regras estabelecidas pela Féderation de la Haute Couture et de La Mode (FHCM), a organização responsável pela indústria da moda do país.
Veja as principais diretrizes:
- Confecção à mão e sob medida para clientes particulares
- Cada peça deve ter ao menos uma prova antes da conclusão da compra
- Cada peça deve ser desenvolvida em um ateliê com ao menos 20 artesãos que atuam em regime integral
- O ateliê deve ser localizado na França
- A cada temporada, a maison precisa apresentar uma coleção com 50 modelos originais
- Os desfiles de verão acontecem em janeiro e os de inverno são realizados em julho
A nomeação das casas-membro acontece todos os anos pela comissão oficial. Atualmente, há 15 participantes: Chanel, Christian Dior, Givenchy, Jean Paul Gaulthier, Maison Margiela, Alexandre Vauthier, Adeline André, Alexis Mabille, Bouchra Jarrar, Giambattista Valli, Franck Sorbier, Maurizio Galante, Maison Rabih Kayrouz, Julien Fournié e Stéphane Rolland.
A lista de participantes, por si só, já mostra como a alta-costura é algo de altíssimo padrão e destinado a públicos exclusivos. A técnica é de grande importância para a preservação de métodos centenários e o fortalecimento do entendimento da moda como forma de arte, mas é inegável que suas práticas não são alcançáveis para todos.Apesar da crescente preocupação com os princípios da moda devido aos processos pouco autênticos e sem sustentabilidade da produção massiva, ainda existem inúmeros criadores de roupas prêt-à-porter que mantêm os padrões de qualidade e a diversidade criativa que compõem a essência da indústria.