O que são microtendências

As microtendências causam comoção principalmente nas redes sociais, mas têm os dias contados

A palavra “tendência”, segundo o dicionário Michaelis, é a “disposição natural que leva alguém a agir de determinada maneira ou a seguir certo caminho”. É, portanto, uma inclinação ou predisposição.

Esse é um termo enraizado no mundo da moda, que pode ser descrito como uma mudança ou novidade que envolve algum aspecto de estilo e, eventualmente, se torna uma espécie de movimento.

É normal que as trends de moda aconteçam de maneira involuntária, muitas vezes incentivada por questões sociais, políticas, econômicas ou tecnológicas.

Mesmo quando algo é planejado, é difícil prever seu sucesso a ponto de se tornar (ou não) uma tendência.

Um exemplo disso são as icônicas solas vermelhas dos sapatos Louboutin. Nos anos 1990, Christian Louboutin trabalhava em protótipos de sapatos junto a uma assistente, mas sentia que faltava algo. Quando percebeu o esmalte vermelho vivo que a ajudante usava, teve a ideia de incluir a cor na parte de baixo dos calçados.

Em 1992, o sapato foi lançado e se tornou um verdadeiro símbolo dos calçados de luxo em pouco tempo. Ainda que confiasse em sua criação, nem mesmo um designer do calibre de Louboutin poderia antecipar uma aceitação tão grande.

Nem todas as tendências de moda, no entanto, têm a mesma longevidade. Especialmente nos dias de hoje, é comum que alguma trend tenha taxas altíssimas de engajamento nas redes sociais, mas que caem no esquecimento na mesma velocidade em que surgiram. 

Se um dia você já se perguntou o que são microtendências, esse é um bom resumo, mas existem mais coisas por trás.

O que são macrotendências?

Antes de mais nada, é importante definir as macrotendências, ou seja, mudanças com alcance de grande escala e estendidas a longo prazo.

Tocando pessoas de todo o mundo e mexendo diretamente com elementos da sociedade, esse tipo de trend costuma afetar, de alguma forma, as identidades, os comportamentos e até mesmo o mercado.

Os sapatos Louboutin são um exemplo disso, mas há fatores que se aprofundam ainda mais nas vidas dos consumidores, como a busca por moda sustentável e que contempla ideais de diversidade.

Considerando o aumento de consciência social entre diferentes grupos, é normal que as marcas acompanhem esses assuntos. Ainda que exista um interesse comercial, também há o lado que caminha junto com as mudanças.

No começo do século XX, por exemplo, era quase impensável que as mulheres usassem calças e saias curtas. Com as alterações sociais ao longo do tempo, já nos anos 1960, as minissaias, mini vestidos e calças boca de sino se tornaram febre no guarda-roupa feminino.

O que são microtendências?

As microtendências são mudanças que atingem um menor número de consumidores e que permanecem relevantes a curto prazo. Profissionais da área indicavam uma vida útil de até cinco anos, mas a velocidade dos dias atuais mostram que essa duração é bem menor.

Em 2023, o lançamento do filme Barbie foi um sucesso estrondoso. Além dos bilhões de dólares arrecadados nas bilheterias, o longa também fez muito barulho a respeito da moda.

Margot Robbie, a atriz protagonista, promoveu o longa vestindo looks que prestavam homenagem às roupas mais famosas da boneca. Isso gerou um frenesi inédito: os espectadores foram aos cinemas usando cor-de-rosa, enquanto a trend Barbiecore ganhou milhões de posts, visualizações, curtidas e compartilhamentos.

Assim que o filme saiu das salas de cinema, o estilo Barbie foi deixado de lado e se tornou mais uma lembrança no museu de tendências afloradas pelas redes sociais.

Recentemente, a W Magazine compilou algumas microtendências que fizeram sucesso em 2024 até então. Office Siren (secretária sexy, mas com modéstia), Mob Wife (esposa da máfia, com muito animal print e casacos felpudos) e Ladies Who Lunch (estilo dos anos 50 com twist moderno) fazem parte da lista.

Usar essas trends em vídeos do TikTok é quase selo de garantia para gerar um engajamento estufado, mas existe pouca (ou nenhuma) influência na vida real. A fascinação por uma estética não significa, necessariamente, o nascimento de uma tendência – muito menos ainda algo que tem potencial o suficiente para perdurar no imaginário coletivo.

Também é importante notar que as microtendências atingem menos pessoas. É natural a existência de fenômenos em algum nicho específico, mas que não têm a mesma força do lado de fora.

Na bolha de e-girls, por exemplo, blush bem marcado com sardas falsas, cabelo colorido ou bicolor e meia-arrastão são quase elementos chave do visual. Fora da comunidade, no entanto, o número de pessoas com essas características é bem menor.

Microtendências e fast fashion

Na visão da jornalista australiana Maggie Zhou, as empresas de fast fashion (produção massiva e veloz de roupas e acessórios) são as maiores beneficiárias das microtendências.

Quando uma trend viraliza on-line, não demora muito tempo para que peças de estilo correspondente apareçam em lojas virtuais de alcance global. A urgência de não perder o timing, portanto, desencadeia confecções com menos responsabilidade e qualidade.

“Produção mais rápida, manufatura exploratória e roupas de plástico são necessárias para acompanhar a demanda criada pelas microtendências”, declarou Zhou à Good on You, plataforma que avalia a sustentabilidade e ética das marcas de roupas.

Apesar do lado consideravelmente negativo, as microtendências não precisam ser encaradas como vilãs. Assim como tudo na moda, são manifestações de expressão que podem, sim, conversar com a personalidade de muita gente.

A ressalva é se atentar na movimentação dessas trends e compará-las ao estilo pessoal de cada um, pensando também em termos de sustentabilidade e autenticidade.

Se determinada cor está fazendo sucesso na internet, será que é preciso comprar roupas novas de lojas com processos de fabricação duvidosa só porque esse é o método mais rápido de consegui-las? Não seria melhor aproveitar uma peça que já mora no seu guarda-roupa ou confiar em marcas que mantêm boas práticas de confecção?

As microtendências não vivem muito, mas a integridade da moda e os impactos ambientais que manufaturas inapropriadas causam duram a vida inteira.